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Governança Corporativa: Confiabilidade nas Empresas Listadas

Governança Corporativa: Confiabilidade nas Empresas Listadas

23/10/2025 - 15:42
Matheus Moraes
Governança Corporativa: Confiabilidade nas Empresas Listadas

Em um cenário de mercados cada vez mais exigentes, a qualidade da governança corporativa determina a confiança de investidores e stakeholders. Este artigo explora em profundidade conceitos, normas, práticas e indicadores que moldam a governança nas empresas listadas na B3.

Conceito e relevância no mercado de capitais brasileiros

A governança corporativa é entendida como um sistema de princípios, regras, estruturas e processos que direciona, monitora e incentiva as organizações, buscando alinhar os interesses entre acionistas, gestores e demais partes interessadas. No Brasil, seu desenvolvimento está diretamente ligado à solidez do mercado de capitais e à atração de investimentos nacionais e estrangeiros.

Ao adotar boas práticas, as companhias reduzem riscos de má gestão, corrupção ou práticas antiéticas, além de fortalecerem sua reputação. Essa confiança se traduz em maior liquidez das ações, valorização de mercado e menor volatilidade nos preços.

Princípios fundamentais da governança corporativa

Os quatro pilares que sustentam a governança corporativa são reconhecidos internacionalmente pelas diretrizes do G20/OCDE e pelo IBGC:

  • Transparência: divulgação clara e tempestiva de informações relevantes para reduzir assimetrias informacionais.
  • Equidade: tratamento justo de todos os acionistas e stakeholders.
  • Accountability (Prestação de Contas): responsabilidade dos gestores perante as partes interessadas.
  • Responsabilidade Corporativa: atuação sustentável nos aspectos sociais, ambientais e econômicos.

Estudos mostram que muitas empresas enfatizam a responsabilidade corporativa, mas ainda apresentam deficiências em transparência e equidade.

Estrutura regulatória e níveis de governança na B3

No Brasil, a governança corporativa de companhias abertas é regida pela Lei 6.404/1976 (Lei das S.A.) e por normas da CVM e da própria B3. Para empresas públicas e sociedades de economia mista, aplica-se também a Lei 13.303/2016, que exige práticas de transparência, controles internos, código de conduta e gestão de riscos.

A B3 oferece diversos segmentos de listagem, cada um com requisitos específicos, que visam aprimorar a qualidade da informação e a proteção de acionistas:

Práticas recomendadas e mecanismos de controle

Para atingir patamares elevados de governança, empresas devem estruturar órgãos e processos eficazes:

  • Conselho de Administração independente, com critérios claros de composição.
  • Comitê de Auditoria Estatutário, ligado ao conselho, reforçando controles internos e gestão de riscos.
  • Diretoria executiva com atribuições definidas e políticas de sucessão.
  • Políticas de remuneração da administração alinhadas aos resultados de longo prazo.
  • Programas de compliance e integridade, com treinamentos periódicos.

Além disso, mecanismos de prevenção de conflitos de interesses, códigos de conduta e punições claras são fundamentais para manter a ética corporativa.

Indicadores e diagnóstico de aderência

Pesquisas apontam que a média de adequação das práticas de governança nas empresas listadas na B3 gira em torno de 70% quando analisadas as maiores companhias, mas cai para aproximadamente 32,23% em uma amostra mais ampla de 344 empresas. Esses números revelam desafios na implementação efetiva dos princípios.

Empresas no Novo Mercado demonstram desempenho financeiro superior, maior liquidez e ambiente mais confiável, comprovando a correlação entre boa governança e custo de capital mais baixo. Entretanto, a adoção plena esbarra em custos de transição e resistências culturais.

Desafios e oportunidades

  • Custos elevados para adaptação de estruturas e sistemas internos.
  • Resistência cultural à transparência e à divisão de poder.
  • Necessidade de capacitação contínua da liderança e dos conselhos.
  • Pressão regulatória crescente, exigindo mais relatórios e auditorias.

Por outro lado, empresas que superam essas barreiras conquistam acesso ampliado a recursos de investidores institucionais, maior resiliência em crises e valorização sustentável de mercado.

Panorama e tendências futuras

O Brasil avança na aproximação aos padrões globais de governança, motivado por demandas de fundos estrangeiros e iniciativas do IBGC. Movimentos recentes incluem maior escrutínio público, ampliação dos relatórios e intensificação das práticas de “aplique ou explique”.

Espera-se que, nos próximos anos, a convergência com diretrizes do G20/OCDE seja ainda mais acelerada, elevando o nível de transparência e equidade nas companhias brasileiras.

Considerações finais

A governança corporativa é um pilar essencial para a confiabilidade das empresas listadas na B3. Ao adotar práticas sólidas, as companhias reduzem riscos, atraem investimentos e constroem valor sustentável. O desafio agora é transformar princípios em prática diária, garantindo ganhos consistentes para todos os stakeholders e para o mercado de capitais brasileiro como um todo.

Matheus Moraes

Sobre o Autor: Matheus Moraes

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