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Gestão de Risco em Instituições Financeiras

Gestão de Risco em Instituições Financeiras

04/11/2025 - 16:43
Lincoln Marques
Gestão de Risco em Instituições Financeiras

Em um ambiente econômico cada vez mais volátil e interconectado, a gestão de riscos tornou-se essencial para garantir a resiliência e o crescimento sustentável das instituições financeiras no Brasil.

Definição, importância e objetivos

A gestão de riscos envolve políticas, procedimentos, sistemas e estruturas de governança destinados a identificar, avaliar e mitigar potenciais perdas. Seu propósito central é assegurar a estabilidade financeira nacional e internacional, bem como a confiabilidade do sistema bancário.

Por meio de controles adequados, as instituições promovem a proteção dos ativos e solvência, reforçando a confiança de investidores, clientes e reguladores.

Tipos de riscos em instituições financeiras

As instituições enfrentam múltiplas categorias de risco, cada uma demandando abordagens específicas:

  • Risco de crédito: possibilidade de perda decorrente do inadimplemento de contrapartes; inclui análise cadastral, classificação de risco, limites de crédito e garantias.
  • Risco de mercado: oscilações em taxas de juros, câmbio e preços de ativos; avaliado por VaR, testes de estresse e sensibilidade de carteiras.
  • Risco de liquidez: dificuldade em honrar obrigações sem perdas relevantes; medido pelo LCR, ICM e NSFR.
  • Risco operacional: perdas por falhas em processos, sistemas ou eventos externos, como desastres naturais.
  • Risco de conduta: práticas inadequadas que afetam compliance, reputação e geram custos legais.
  • Riscos emergentes: ameaças cibernéticas, inovação tecnológica, ESG e criptoativos.

Estrutura organizacional e governança

Uma governança sólida distribui responsabilidades claras entre diferentes instâncias:

  • Conselho de Administração: definir políticas de mercado e liquidez.
  • Diretoria Executiva: estabelecer limites de risco e aprovar metodologias.
  • Área de Gestão de Riscos: identificar, monitorar e reportar os riscos, além de calcular o capital regulatório.
  • Compliance: assegurar conformidade com normas internas e regulamentações externas.
  • Auditoria Interna: conduzir revisões independentes e testar a eficácia dos controles.

Processos e ciclos da gestão de riscos

Cada fase do ciclo de risco é fundamental para manter a instituição preparada:

  • Identificação: mapeamento dos riscos possíveis, causas e fatores de exposição.
  • Mensuração: aplicação de modelos quantitativos e qualitativos de avaliação como rating, VaR e stress tests.
  • Avaliação: análise de probabilidade e impacto para priorizar ações.
  • Controle/Tratamento: estratégias de mitigação, aceitação, transferência e compensação de riscos.
  • Monitoramento: acompanhamento constante de indicadores, relatórios e alertas.
  • Comunicação: relatórios claros para alta administração e órgãos reguladores.

Marcos regulatórios principais

O arcabouço normativo brasileiro está alinhado a padrões internacionais e reforça práticas robustas:

A Resolução CMN nº 4.557/2017 estabelece a gestão integrada de riscos e capital, proporcional ao perfil de cada instituição. Já a Resolução BCB nº 470/2025 detalha o cálculo de ativos ponderados pelo risco (RWA) e validações independentes, vigendo a partir de 2027 para os maiores bancos.

A Resolução BCB nº 522/2025 visa combater fraudes e lavagem de dinheiro em arranjos de pagamento, aprimorando transparência e controles. As diretrizes do Basel III, incorporadas pela regulamentação brasileira, definem padrões de capital e liquidez, culminando em regras prudenciais do Banco Central para limites operacionais e segmentação prudencial.

Práticas e ferramentas

Instrumentos técnicos e tecnológicos ampliam a eficácia da gestão:

Modelos internos de rating de crédito e cálculo de VaR convivem com frameworks padronizados. Testes de estresse simulam cenários extremos para avaliar resiliência de capital e liquidez, enquanto operações de hedge neutralizam exposições a variações de mercado. Controles internos integrados alinham compliance e auditoria, promovendo atualização constante das políticas.

Indicadores como LCR, NSFR e ICM são acompanhados em dashboards que sinalizam desvios e acionam planos de contingência.

Exigências quantitativas e indicadores relevantes

Os reguladores definem parâmetros mínimos para garantir solidez:

Desafios e tendências

A digitalização traz ganhos de eficiência, mas também amplia riscos de segurança da informação. A incorporação de critérios ESG demanda ajustes em processos internos e novas métricas de avaliação de riscos socioambientais.

O avanço de criptoativos e pagamentos digitais impõe regulamentações específicas e controles de fraude em tempo real. A crescente exigência por governança corporativa efetiva e transparente intensifica auditorias e reportes, fortalecendo a cultura de risco.

Casos e exemplos práticos

O BNDES é referência na adoção de políticas sofisticadas de crédito, com processos internos robustos e integrados de análise e monitoramento. Ferramentas próprias de stress test e rating permitem ajustar limites de exposição conforme o cenário econômico.

Instituições de pagamento digital, sob a Resolução 522/2025, implementaram controles de fraude avançados, combinando análise de dados em tempo real e aprendizado de máquina para identificar padrões suspeitos.

Em síntese, a responsabilidade socioambiental e governança corporativa caminham lado a lado com o gerenciamento de riscos, promovendo sustentável crescimento e confiança no sistema financeiro brasileiro.

Lincoln Marques

Sobre o Autor: Lincoln Marques

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