Em um momento em que o mundo se mobiliza para conter as mudanças climáticas, o Brasil assume papel estratégico. A transição para uma economia de baixo carbono não é apenas imperativa do ponto de vista ambiental, mas representa uma grande chance de renovação e prosperidade para o setor produtivo nacional.
A descarbonização envolve a redução ou neutralização das emissões de gases de efeito estufa (GEE), principalmente CO₂, em processos industriais, agrícolas e de transporte. O compromisso brasileiro, firmado no Acordo de Paris, prevê a redução de 59% a 67% das emissões até 2035, com objetivo de neutralidade climática até 2050.
Esse movimento reflete uma necessidade global de conter o aquecimento do planeta e também se alinha a uma oportunidade histórica de atrair investimentos e modernizar a infraestrutura, aproveitando o potencial do país para produzir e consumir energia de forma mais limpa.
Os custos são substanciais, mas devem ser encarados como investimentos de longo prazo. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a descarbonização do setor industrial brasileiro pode custar cerca de R$ 40 bilhões até 2050, sem considerar adaptações em redes de energia e logística.
Além disso, o desafio de modernizar portos, estradas e sistemas de telecomunicações para suportar novas tecnologias pode elevar ainda mais esse valor. Contudo, o retorno potencial justifica a mobilização de recursos públicos e privados em torno dessa agenda.
A adoção de práticas sustentáveis é capaz de impulsionar o crescimento econômico e a competitividade. Estima-se que o plano “Novo Brasil” eleve o PIB em 0,8 ponto percentual ao ano até 2035, adicionando até R$ 465 bilhões ao produto interno bruto ao longo desse período.
Cada R$ 1 investido em energia renovável pode gerar retorno de R$ 1,57, enquanto a descarbonização da agricultura pode render US$ 2 de ganho por dólar investido. A transição energética justa e eficiente ainda reduz riscos climáticos e fortalece a segurança energética.
Para aproveitar as oportunidades, é preciso enfrentar obstáculos estruturais. O persistente “Custo Brasil” e a alta taxa de juros elevam o custo de capital, dificultando investimentos em tecnologias limpas. Ao mesmo tempo, 82% dos subsídios fiscais direcionados ao setor de energia ainda favorecem combustíveis fósseis.
Além disso, a complexidade regulatória e a instabilidade de marcos legais podem desestimular investidores. A consolidação de um Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) eficiente e de incentivos estáveis é crucial para superar essas barreiras.
Programas públicos bem delineados já oferecem alguns caminhos de aceleração:
A criação de políticas de investimentos privados em sustentabilidade e inovação e o direcionamento de receitas de leilões de carbono para redução de distorções podem aumentar a atratividade do setor e envolver toda a cadeia produtiva.
Avanços tecnológicos são pilares da descarbonização. No setor industrial, destacam-se:
Setores como agropecuária, energia, construção civil e transporte têm papéis centrais:
Na agropecuária, a redução do desmatamento e a intensificação sustentável podem aumentar a produtividade com custo negativo. No setor energético, a expansão de solar, eólica e biocombustíveis reforça a matriz energética mais limpa e diversificada. Na construção civil e siderurgia, há espaço para materiais de baixo carbono e eficiência. No transporte, a eletrificação e o uso de CO₂ biogênico surgem como soluções promissoras.
Empresas brasileiras já incorporam metas de descarbonização, buscando vantagem competitiva no mercado global. A cooperação internacional e o alinhamento com agendas multilaterais podem facilitar a transferência de tecnologias e recursos.
Para viabilizar o processo, recomenda-se:
Ao combinar esforços públicos e privados, o Brasil pode não apenas cumprir suas metas climáticas, mas impulsionar a inovação, criar empregos e consolidar seu protagonismo em uma transição energética global com cooperação que se desenha inevitável e promissora.
Referências